domingo, 24 de abril de 2011

Cinzas

Das cinzas você nasceu, respirou, ergueu suas mãos brilhantes que te faziam voar, viajou pela luz, planou na via láctea e me viu naquela praia, onde te reconheci sem te notar. Fui seduzido pelo seu ar de dimensão paralela e assim caminhamos pela terra, apaixonados, tentando entender as tantas formas possíveis de se amar, tentando entender se, de fato, ainda podiam nos aceitar.

Nessa multidão de sonhos que vivemos, corri entre as cores e pude sentir o frio na barriga mesmo não havendo ar pra respirar. Mas a maior parte dessa vida, era formada apenas de pensamentos, reflexos não concretos que nos faziam delirar.

O tempo não perdoou e passou mais rápido do que podíamos prever. As idéias mal interpretadas implantaram a dúvida no Deus, que já não sabia mais de que lado se ater. Teorias fanáticas iludiram o que de santo havia em ser o que somos, e a razão a qual você sussurrou no meu ouvido, não havia sido passada ao de todos os outros.

O mar se separou de forma séptica, contaminando os que, com um olho só, ainda enxergavam a verdade por detrás dos preconceitos. Arremessaram pedras aos espelhos arranhados, reciclaram os cacos que recusavam se render e em várias etapas, os fizeram parar de pensar, na última delas, os fizeram pedir pra morrer.

Caímos na escuridão, senti a fraqueza de não poder te segurar, nem mesmo ver a luz do sol que de ti me fazia lembrar. Amputaram minhas mãos que te abraçavam, me colocaram em uma caixa, pouco menor que um palmo, depois me poliram, para estar de acordo com o que se havia exigido. Tiraram minha aparência, minha identidade, ficando apenas a agonia, de não poder esconder meu coração partido, dos autores condenados a vagar no meu mundo sem sentido.

No seu último suspiro, morri mil vezes pela alma que me estava sendo tirada, gritei para que todos os lados pudessem ouvir, o quão contrário o destino poderia ser, implorei para que o meu coração parasse... até eu ver, pela parede sem fresta, a luz do sol mais uma vez. Percebi que assim como no início da vida, os cacos de vidro queimados, tornariam cinzas, e assim você iria renascer. Respirei pela última vez, curvei a cabeça e sorri. Já não havia mais o que temer.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

You've got a friend


When you're down and troubled
And you need a helping hand
And nothing, nothing is going right
Close your eyes and think of me
And soon I will be there
To brighten up even your darkest night

You just call out my name
And you know wherever I am
I'll come running to see you again
Winter, spring, summer or fall
All you've got to do is call
And I'll be there, yeah, yeah, yeah.
You've got a friend



Para Nick, que sempre preenche as linhas do meu coração com versos de amizade.
Feliz Aniversário!
Te amo


OBS: olhe atentamente para as linhas do coração.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Respeito: passe adiante



"Penso que é isto o que torna perturbadora a homossexualidade: o modo de vida homossexual muito mais que o ato sexual mesmo. Imaginar um ato sexual que não esteja conforme a lei ou a natureza, não é isso que inquieta as pessoas. Mas que indivíduos comecem a se amar, e aí está o problema. A instituição é sacudida, intensidades afetivas a atravessam, ao mesmo tempo, a dominam e perturbam. Olhe o exército: ali o amor entre homens é, incessantemente convocado e honrado. Os códigos institucionais não podem validar estas relações das intensidades múltiplas, das cores variáveis, dos movimentos imperceptíveis, das formas que se modificam. Estas relações instauram um curto-circuito e introduzem o amor onde deveria haver a lei, a regra ou o hábito".
(Michel Foucault)

Passe adiante!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Coloração incerta

Deveria ter me feito dizer,

você havia percebido de fato,

meu inconsciente te notar.

.

Não juntasses as idéias, me deixasses passar,

fugindo das palavras, desviando o olhar,

talvez não houvesse nada a dizer,

mas o simples fato de te mirar,

tornou o ato estrito,

como um contrato silencioso, unilateral e consentido.

.

Por um momento, o tempo parou!

Com som de arma, chorei,

nesse acaso maldoso e sem sentido,

vindo de onde nada vê, sentindo onde nada sente.

O fez paralisar, escorrer,

aquilo que antes batia sem fim,

e agora mancha o chão sem cortesia,

fez gritar até a alma, que amedrontada, queimava e ardia.

.

Tudo fugiu, até o amanhecer,

onde o último suspiro fez ofuscar, o que de nítido havia nessa passagem.

Um raio de sol, de coloração incerta, é o que se guarda,

onde já não bate mais vida, onde já não sente mais nada.

sábado, 2 de abril de 2011

Anjo


E a partir daquele momento eu estava condenado, preso em cada partícula da sua existência, desesperado para me libertar e ao mesmo tempo ansioso por uma realidade futura e talvez impossível de se tornar concreta. De poucas e simples palavras eu me resumi a apaixonado e te resumi a paixão. E mesmo nesse suporte de insana "faticidade", aconteceu, cresceu, me tornou fraco, burro, humano, me fazendo notar o quão bela pode ser a face de um anjo e o quão forte é o poder da tentação.